quinta-feira, 28 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 261 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

261

Este sentimento de desadaptação está costurado no meu âmago desde sempre. Lembro-me de, em criança, muito pequeno ainda, sentir-me deslocado no tempo, como se a cegonha tivesse ficado retida num engarrafamento de décadas provocado por uma paralisação dos serviços administrativos aéreos da Natalidade.

Esse atraso na entrega fez com que eu só visse a luz do dia bem mais tarde do que seria suposto. Pelo menos, valha-nos isso, o tempo de traslado é independente do de gestação, caso contrário eu teria nascido mais velho do que a Sé de Braga.

Tirando esse detalhe do desacerto temporal, não tenho mais nada a colocar no livro de reclamações. Os movimentos de rotação e translação dão-me os dias, as noites e as estações. A gravidade não me deixa flutuar – isso é óptimo para quem tem vertigens -, o céu varia entre o azul e os tons cinzentos, o mar anda entretido com os seus humores e marés, tanto a fauna como a flora são incríveis. Enfim, é tudo tão perfeito que a única coisa que posso reclamar da vida é estar aqui no tempo errado.

EMANUEL LOMELINO

A qualquer hora da noite (excerto 6) - Geórgia Alves

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Sim. Para ele, era preciso checar, tragicamente, que tudo que tinha como grande algo que possuía nesse mundo, sequer era dele e urgia que ela fosse capaz de perceber o desejo dele. Cora repousa os olhos como Cristo rendido e é pega na expressão desse jogo infindável entre eles, o que une dois corpos ainda é mistério para o homem, sobretudo o homem que dá de ombros ao desejo que sente diante de um corpo de mulher. Sobretudo um homem que jamais consegue fixar seu desejo em um mesmo corpo.

EM - A QUALQUER HORA DA NOITE - GEÓRGIA ALVES - IN-FINITA

quarta-feira, 27 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 260 - Emanuel Lomelino

Imagem pixabay

Diário do absurdo e aleatório 

260

Por vezes o fogo da vontade perde vigor e transforma-se numa ténue faúlha, que só não se extingue porque nos momentos de alento invertido, sobram ligeiras ondas de resiliência que, embora em banho-maria, impedem que o sentir seja obliterado por uma brisa de fraqueza.

Tal como os arco-íris, os ápices débeis da mente são miragens que tentam grudar-se ao céu do raciocínio, na esperança de ganhar protagonismo, como fossem autores de lavras plagiadas, a desfilar nas sombras de falsas passadeiras vermelhas, sem holofotes nem comendas.

Esses instantes frágeis, quando bem identificados, são manuais empíricos, do lado negro do ser, que ajudam na compreensão dos extremos da personalidade.

Cabe a cada um dar uma utilidade holística, ou parcial, ao aprendido – quando munidos de capacidade reflexiva e isenção de preguiça.

EMANUEL LOMELINO

Longevidade (excerto 6) - Renata Campos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Dizem por aí que comer bem, estar em movimento, cultivar o amor e controlar o estresse são caminhos que nos levam a longevidade. No entanto, como aplicar ferramentas que parecem simples, mas que a maioria de nós não consegue manter por muito tempo? Como criar um estilo de vida que nos permita envelhecer sem sofrer tantos danos físicos e emocionais? É preciso enfrentar pequenas mudanças todos os dias para conquistar grandes resultados.
Quando li o livro “Zonas Azuis” de Dan Buettner, a inspiração bateu forte e plantou uma semente de mudança no meu estilo de vida. Entender como regiões localizadas em diversas partes do planeta obtinham maior longevidade com menor taxa de doenças disparou um alarme sobre como eu estava condicionando minha vida e como precisava urgentemente introduzir novas escolhas no meu processo de envelhecimento.

EM - SEGUNDA PRIMAVERA - RENATA CAMPOS - IN-FINITA

terça-feira, 26 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 259 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

259

Há um abismo, criado propositadamente, que dificulta o acesso ao mais íntimo de mim, porque só a mim pertenço, só a mim me justifico, só a mim me cumpro.

Por muito que deduzam pedantismo, tomara cada um ver-se o centro do universo, qual astro com órbita personalizada, e poder acionar ou desligar, dependendo do sentir, a força gravitacional que permite a aproximação de outros corpos celestes.

Muitos usam expediente semelhante, no entanto, sempre subjugados ao engrandecimento material que os “atraídos” proporcionam.

O meu egocentrismo, consciente, é espiritual, intimista, irreversível, meu. A mais ninguém pertence, a mais ninguém é útil, a mais ninguém enriquece.

E, pasmem-se os desavisados, esta convicção prática jamais foi impeditiva dos meus contínuos altruísmos, dos quais tampouco alardeio ao mundo. Quem vê, sabe. Quem desconhece, ignora. E convivo bem com ambos os espectros, porque só a mim cativo.

EMANUEL LOMELINO

O Psicopata (excerto 2) - Daniele Barbosa Bezerra

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Aproximou-se das mulheres pensando no que poderia usufruir de cada uma delas, depois que as deixava fragilizadas, sumia, sem elas mesmas saberem o porquê. Algumas estavam grávidas quando o meliante desaparecia no mundo. Quando as via no mundo, fingia não reconhecê-las. Elas o odiavam somente pela passagem dele em suas vidas e pelo tempo que perderam ao seu lado.
Ele morria de vergonha da família, sobretudo de sua mãe. Seu pai morava em outro estado e pouco se importava com ele, a vida toda foi assim. Cresceu com esta lacuna de menino desvalido e nunca mais a preencheu. Pelo contrário, reproduziu todo o comportamento do pai e da pior maneira possível, por onde passou deixou um rastro de destruição, dissabor e vergonha para as mulheres que o conheceram.

EM - OS DOZE CONTOS DE SOLIDÃO - DANIELE BARBOSA BEZERRA - IN-FINITA

segunda-feira, 25 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 258 - Emanuel Lomelino

Imagem pinterest

Diário do absurdo e aleatório 

258

Sinto que estou a derramar-me até ao extremo do vazio; até ao limite da sensibilidade; até à falésia da consciência, qual abundante cascata de coisa alguma.

Nestes dias em que liquidifico a minha existência deixo de ser corpóreo, liberto-me das emoções, abraço a vacuidade profunda e agrilheto os pensamentos no mais esconso subterrâneo.

Embrulho-me na agudeza protetora e segura do silêncio absoluto e deixo o meu espírito vazado deambular pela neutralidade do espaço.

Somente o nada consegue ser, em mim, o equilíbrio, a prudência, a sensatez, a razão, o tão desejado porto de abrigo.

EMANUEL LOMELINO

Entre céu e mar - Leila Medeiros

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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A aquarela foi a técnica escolhida para ilustrar a capa da Coletânea Conversas Maduras porque envolve o protagonismo da água. Pede sutileza e, ao mesmo tempo, retrata intensidade! Como a água não pode ser controlada, a pintura com aquarela sempre surpreende nos resultados e ensina que o equilíbrio está no movimento. Isso também pode se aplicar à nossa vida.
Comigo está sendo assim e gosto de pensar que me sinto Plena! Pintei essa mulher livre e imersa no movimento das estrelas e das águas. Ela está alinhando seu ritmo interno com o ritmo da natureza e recebendo a energia da ciclicidade lunar em seu corpo. Ela procura vivenciar e transformar seu processo de evolução com a chegada da maturidade. Essa mulher está expressando seu sagrado feminino e se permitindo sentir, depois de muito tempo reprimida… um estado de êxtase pela vida!

EM - CONVERSAS MADURAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

A moça da lagoa (excerto 2) - Marcos Coelho

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Foi, nesse dia, ao final de uma tarde, que o encontraram ele dentro da lagoa conversando e de mãos dadas com a moça misteriosa. A mãe preocupada puxou o moço com a ajuda dos filhos para fora da lagoa, e no momento que foi para pegar a moça, como o sol se pôs, ficou com uma sapa entre as mãos, dando um grito de horror.
Para espanto de todos ali, a moça se transformara numa sapa e caiu na lagoa.
O rapaz gritou, se desvencilhando dos braços dos irmãos e disse a todos:
– Não façam mal ao meu amor, ela foi amaldiçoada por uma feiticeira, uma senhora que tinha um filho cujo matrimonio foi recusado por ela, ao que a futura sogra, lançou-lhe um feitiço, seria sapa de noite e de dia não poderia também sair da lagoa, a menos que encontrasse um amor verdadeiro. Eu preciso dizer-lhe que a amo e dar-lhe um beijo de amor verdadeiro.

EM - ENTRE ROSAS, TUIUIÚS E BONECAS DE MILHO - ELI COELHO, MARCOS COELHO, MARIA ALIENDER - IN-FINITA

domingo, 24 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 257 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

257

Há uma heterodoxia evidente no silvo melífluo da brisa que beija as folhas de uma árvore. É um ciciar da natureza; um aviso intimista, mas tão expressivo quanto os brados das ondas que esculpem os maciços rochosos. Contudo, mantemo-nos indiferentes.

Existe um discurso, nas vozes das tempestades, que passa despercebido a olho nu. É um código do ambiente; um sinal de alerta, tão dual como o ressonar de um vulcão adormecido na antecâmara do seu estrondoso despertar. Contudo, mantemo-nos apáticos.

Há uma oscilação atmosférica em todas as épocas como um entrelaçar festivo de quadras temporais. É um sussurro climático; uma advertência tão cadenciada quanto o degelo dos mais primitivos glaciares. Contudo, mantemo-nos passivos.

Existe um tempo que se esgota como uma ampulheta quebrada. É a noção de perenidade a extinguir-se como o Cretáceo. Contudo, mantemo-nos impávidos porque essas coisas só acontecem aos outros. Quais outros?

EMANUEL LOMELINO

Rua selvagem (excerto 2) - Luís Vasconcelos

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Todos temos o nosso quintal, um mundo feito à imagem da nossa fantasia, onde nos sentimos seguros e protegidos, mas à medida que vamos crescendo ele vai desaparecendo, ficamos confrontados com a vida real, um mundo quantas vezes cínico, hipócrita, falso e perverso, para o qual nunca estamos verdadeiramente preparados, uma selva, onde é cada um por si, uma noite densamente escura, sem luar, um túnel sem que se consiga ter um breve vislumbre de luz ao fundo, tornando tudo tão assustador! Foi o que aconteceu comigo ao crescer, quando comecei a ter que conviver com a maldade das pessoas.

EM - COMEÇAR DE NOVO - LUÍS VASCONCELOS - IN-FINITA

sábado, 23 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 256 - Emanuel Lomelino

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Diário do absurdo e aleatório 

256

A turbulência dos dias não quer saber se o arco-íris é filho do sol e da chuva ou reflexo da cúpula que dá razão aos esfomeados terraplanistas.

De leste chegam uivos ogivados rugidos por gargantas mais inocentes do que gárgulas esquimós, enquanto, daquela janela aberta para o Tejo, ecoa uma voz de barítono com hálito de açorda e chamuça.

Nos carris do elétrico, encerados pela morrinha recente, deslizam saltos altos, “raios partam” e outros impropérios indiferentes às moedas, largadas à laia de piedade, no boné do humorado maltrapilho, que tem banca permanente no adro da igreja e um cartaz a informar: multibanco avariado.

Na porta da tasca sorvem-se ginjinhas espirituosas e lançam-se olhares – cada um com o seu significado – para os “camones” na esplanada e aos que passam de mochilas às costas e ansiosos por fotografar os azulejos quebrados das fachadas devolutas.

O céu anuncia o anoitecer precoce de mais um domingo e não há tempo a perder com notícias de Gaza ou Kiev porque é dia de clássico na tv e expulsão num reality show.

EMANUEL LOMELINO

A qualquer hora da noite (excerto 5) - Geórgia Alves

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Ouvem a voz da outra cozinheira dizer seu nome, e logo voltam à resolução de ter em mãos a chave que levará ao bangalô reservado. A mocinha, imersa, segue a enfileirar suas esculturas feitas de fios finíssimos. Logo decoram o centro da mesa. 
É a primeira vez deles naquela praia. Cora e Jaú, representante de uma marca de enlatados cuja especialidade é abrigar besuntadas em óleo comestível sardinhas. 
É verdade que um dia, foi pescador.

EM - A QUALQUER HORA DA NOITE - GEÓRGIA ALVES - IN-FINITA

sexta-feira, 22 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 255 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

255

Sou um leitor híbrido. Embrenho-me em romances, contos, filosofia, antropologia, história, ciências, crónicas, ensaios, prosa poética e poesia, como quem procura respostas a perguntas que ainda não fez.

Leio contemporâneos e antigos, essencialmente clássicos, com o objectivo de expandir os meus conhecimentos e, com isso, alargar horizontes e aperfeiçoar as minhas técnicas criativas.

Nessa fome por sapiência, mais do que ler, devoro livros atrás de livros, com plena consciência de que o estômago literário jamais ficará saciado.

No entanto, a conclusão mais relevante desta gula está no facto de que, das léguas de palavras lidas, tal como admitiu Adam Zagajewski, assimilei apenas “farrapos” de entendimento. O resto, sobra-me a esperança, um dia conseguirei compreender.

EMANUEL LOMELINO

Longevidade (excerto 5) - Renata Campos

LIVRO GENTILMENTE CEDIDO POR IN-FINITA
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Minha história começa na barriga da minha mãe, um lugar que deveria ser seguro e acolhedor, mas que, infelizmente, me alimentava de medo e angústia. Então, eu nasci e mais uma vez fui privada da segurança que buscamos quando chegamos aqui: o aconchego do peito materno, o momento íntimo de mãe e filha. Minha amamentação foi interrompida quando o médico disse que o leite era fraco e prescreveu água de arroz com leite moça. Eu passava noites e noites berrando de cólica. Em paralelo, meus pais brigavam demais, e fico imaginando aquele bebê indefeso escutando toda aquela gritaria, chorando sem poder fazer nada. Aquilo foi se transformando em uma asma emocional e intensificada pelos inúmeros cigarros que meu pai fumava em casa. Exigia uma luta diária daquele pequeno ser para respirar.

EM - SEGUNDA PRIMAVERA - RENATA CAMPOS - IN-FINITA

quinta-feira, 21 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 254 - Emanuel Lomelino

Diário do absurdo e aleatório 

254

Não há sol que ilumine os íngremes caminhos sombrios que o fado obriga a percorrer, sem desvios.

A luz dissipa-se a cada encruzilhada como se as copas das árvores fossem uma cortina fechada para o céu.

Os passos sincopados, numa lentidão desesperante, soam a desencanto e nada pode ser feito para que a viagem enalteça o espírito.

Olhar para trás também não se revela uma melhor opção porque a lonjura parece idêntica – senão maior.

Resta seguir adiante, na esperança de que, apesar do negrume, a caminhada possa ser feita com o mínimo de percalços e a vastidão subterrânea seja substituída por extensas planícies pintadas de verde e luz.

Pouco importa a escuridão dos dias quando o final do túnel ainda está à distância de uma vida inteira.

EMANUEL LOMELINO

O Psicopata (excerto 1) - Daniele Barbosa Bezerra

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A anciã já teve muitos bens materiais, mas com a morte de seu companheiro perdeu o juízo e ganhou a companhia do seu pior inimigo, seu filho único. Ele a ajudou a se transformar numa pessoa sem eixo, sem planos e com uma velhice triste.
Viveu quarenta anos com o amor de sua vida, sendo a melhor das mulheres para ele, só não foi boa para ela, só para ele, claro! Com a morte de seu Zezé e com a doença psíquica dela, o filho não perdeu tempo e conseguiu administrar todos os seus bens, com o respaldo do governo e dos bancos, que a consideravam completamente incapaz; mas ao filho, psicopata, foi dado o direito de administrar os bens da mãe. Ironia governamental.

EM - OS DOZE CONTOS DE SOLIDÃO - DANIELE BARBOSA BEZERRA - IN-FINITA

quarta-feira, 20 de março de 2024

Diário do absurdo e aleatório 253 - Emanuel Lomelino

Imagem oslivros

Diário do absurdo e aleatório 

253

A pele manchada, de múltiplas e árduas batalhas, exibe com sofreguidão todas as escaras acumuladas, que se sobrepõem umas às outras, como se a derme fosse um transporte público apinhado de gente em hora de ponta, quase sem espaço para respirar.

O cansaço e as nódoas negras empilham-se no corpo e, por mais forte que seja a nossa resistência, fazem esmorecer todos os ímpetos, todos os desejos, toda a força interior, como se as vontades, quais seres independentes de nós, quisessem tomar as rédeas da vida e levar-nos por caminhos diferentes, diametralmente opostos ao pretendido.

No pensamento aflora a ideia de mandar os planos às malvas, abdicar dos propósitos iniciais e aceitar, com resignação, a tristeza dos fados sem melodia, qual Sísifo conformado com a inevitabilidade da sua sorte.

Nestes dias, de moral fragmentada, encontro a salvação nas palavras dos sábios que habitam a minha cabeceira, ganho mais uns traços na bateria que me energiza e volto a acreditar que todo o esforço, sangue, suor, lágrimas e corpo inchado, levar-me-ão ao porto ambicionado.

EMANUEL LOMELINO

A mulher madura que quero ser (excerto 1) - Katya K. Borges

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“A idade me deu aquilo que procurei a vida inteira
– me deu eu mesma”
Anne Lamott

Acredito que minha história com a menopausa não deva ser diferente da maioria das mulheres de 50+. Temas como menstruação, prazer feminino e, principalmente, a menopausa ainda são considerados tabus para muitas de nós. Menstruei e tive a primeira relação sexual sem muitas orientações, a considerar que, naquela época, não havia internet. Era tudo via amigas e curiosidade própria.
Há dois anos, entrei na menopausa. Apesar de já saber que isso aconteceria em breve, não busquei nenhuma informação, mesmo estando na era tecnológica. Das duas uma: ou estava em negação, ou acreditava que iria tirar de letra a nova fase – apesar de uma não invalidar a outra.

EM - CONVERSAS MADURAS - COLETÂNEA - IN-FINITA

A moça da lagoa (excerto 1) - Marcos Coelho

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Há muitos anos atrás, na região das Serras de Maracajú, morava uma família, pai e mãe com seus sete filhos, todos meninos. A mamãe, Dona Maria Lídia, mulher zelosa e muito inteligente, preocupava-se que seus filhos aprendessem algum ofício e se casassem tão logo se tornassem adultos. Ela sabia que a vida era muito difícil, a roça não supria mais tudo de que precisavam, assim, o casamento era um caminho seguro para a sobrevivência.
O filho caçula era o último que não havia se casado, não encontrava nenhuma garota que o fizesse ficar sem palavras e despertasse nele o amor. A mãe preocupada sempre o advertia:
– Albertinho, você deve se apressar, meu filho, já está ficando velho, daqui a pouco nenhuma moça vai lhe oferecer um dote por casamento, te cuida meu filho. Dizia toda preocupada.
– Mãezinha, tenho 17 anos, estou a estudar com a Dona Carmosina, não se preocupe, logo surge alguém que me toque o coração. A senhora verá. Vou me casar e a senhora vai ainda ficar muito contente comigo.

EM - ENTRE ROSAS, TUIUIÚS E BONECAS DE MILHO - ELI COELHO, MARCOS COELHO, MARIA ALIENDER - IN-FINITA