segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Os oportunistas da escrita



Sendo evidente que, enquanto autor, gostaria de ter casa cheia sempre que faço um lançamento ou apresentação de um livro meu, aceito com normalidade que tal não aconteça e nem me choca a ausência seja de quem fôr. Não me posso queixar das afluências aos lançamentos dos meus livros, mais não seja porque nunca crio grandes expectativas em relação ao número de pessoas que podem aparecer mas perante aquilo que tenho visto em muitos eventos posso dizer que sou um autor privilegiado pois sempre tive casas razoavelmente bem compostas de público.

No entanto, não é menos verdade que, como amante da escrita e apreciador de eventos culturais, é difícil para mim entender a forma como alguns autores, que se dizem plurais e culturalmente empreendedores, pura e simplesmente agem de modo contrário ao que anunciam aos sete ventos.

Sou um frequentador assumido de eventos literários e enquanto tal sinto-me autorizado a tecer uma critica directa a todos aqueles que, amiúde, se queixam da escassez de eventos (não são tão escassos como isso) mas nunca aparecem em nenhum (as redes sociais estão pejadas deles).

Não é raro acontecerem eventos em que o número de assistentes na plateia é inferior ao número de pessoas na mesa de apresentação, normalmente composta por três elementos. Já assisti a uma mão cheia deles e digo-vos que para os autores não é agradável viver uma situação semelhante.

Ao longo desta minha caminhada pelo mundo da escrita tenho vindo a verificar que não são poucos aqueles que se deixam ver, apenas e só, em efemérides de editoras, lançamentos de antologias em que participam e dos seus próprios livros. Curiosamente, ou talvez não, esses eventos ocorrem em datas muito próximas.

Alguns podem dizer que não é possível aparecer em todos os eventos e eu concordo e aceito esse argumento porquanto todos temos responsabilidades na vida, sejam familiares, de amizade e até de negócios. Todos temos direito a gozar férias longe das cidades, todos temos direito a dar umas escapadinhas ao fim de semana e descansar do reboliço do dia-a-dia. Mas, pelo menos para mim, é difícil compreender como é que alguém pode moralmente exigir que as pessoas apareçam no lançamento do seu livro quando nos restantes cinquenta e um fins-de-semana ninguém lhe põe a vista em cima.

No momento em que escrevo estas linhas, eu poderia fazer uma lista com cerca de duas dezenas de pessoas que agem desta forma, mas fazê-lo seria dar importância a quem definitivamente não a merece em detrimento daqueles que mesmo não estando em todos os eventos sempre vão aparecendo para dar apoio a outros autores. E estes últimos superam em número os anteriores.

A literatura precisa não só de quem escreve mas também e fundamentalmente de quem a leia sob risco de nos transformarmos num país de escritores que não lêem.

Para que possam estar a par dos eventos que vão acontecendo, durante esta semana deixarei aqui uma lista de iniciativas culturais. Assim já não podem argumentar que não existe nada.

 
MANU DIXIT

7 comentários:

  1. Uma realidade muito bem exposta, os eventos servem para a união e partilha da escrita e da amizade. Eu que nem sempre posso por motivos profissionais mas faço sempre os possíveis para estar quando alguém de quem gosto pela amizade e\ou pela escrita estar. Seja um lançamento ou um evento de cariz cultural.
    Existe sim uma ladainha constante que nada se faz pela cultura mas contudo os ditos que tanto reclamam são os que menos aderem a eventos de cultura, pois um lançamento de um livro e\ou antologia é um ato cultural.
    E não creio nem consigo conceber que alguém que gosta de escrever não goste de ler. E já ouvi várias pessoas assumirem isso, não leio! Será que estes escritores não leitores nem sequer precisaram aprender a escrever para se tornarem escritores?! Ou serão detentores de um talento tal com um dicionário uno de palavras inventadas pelos mesmos?!
    Concordo com tudo o que aqui dizes, e sim se calhar é preciso que muitos eus se assumam com leitores e depois escritores e deixarem o ego de escritores para que a sociedade cultural possa de facto evoluir e se propagar…
    Ana Coelho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ana! Não acrescento uma virgula que seja! grato pela visita e pelo comentário. Beijo.

      Eliminar
  2. Faltou-me ainda focar uma outra vertente que observo nos eventos onde estou e nos que visualizo por fotos: aqueles que apenas vão quando é da editora A aos da editora B não aparecem... o mesmo acontece na divulgação de eventos via redes sociais apenas fazem pela "capa" ou por outro qual quer motivo que me escapa ou talvez não.

    ResponderEliminar
  3. A frase não é minha mas de um amigo meu que escreveu no prefácio de um livro que "nem todos os leitores são escritores mas todos os escritores são leitores".
    Não consigo compreender que assim não seja.
    Mas o que se focou aqui foi a escassez de assistência em eventos culturais e eu assumo, com muita humildade, que não sou especialmente assídua, por razões várias.
    Vou a alguns, quando posso, mas falto a muitos que gostaria de ir porque o meu marido não quer ir, por razões económicas ou de falta de disponibilidade, etc... enfim, há sempre uma razão, para mim válida mas que os outros podem pensar que não é de peso.
    Mas não é por isso que me considero "oportunista da escrita" nem faço seleção de editoras, não me sinto vinculada a nenhuma.
    Vou se posso e tenho interesse no autor/livro, porque se fizesse de maneira diferente, estaria a comparecer por obrigação e não por vontade real de o fazer.
    Mas este "post" fez-me meditar e, de certa forma, terei de repensar a minha postura futura.
    A frase "A literatura precisa não só de quem escreve mas também e fundamentalmente de quem a leia sob risco de nos transformarmos num país de escritores que não lêem." é forte e "obrigou-me" a esta espécie de exame de consciência.
    OBRIGADA por isso!
    :-)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Maria Eugénia! Como digo no texto, cada um tem a sua própria vida com as obrigações a ela inerentes. O que tenho verificado (ainda no sábado aconteceu) é ver certas pessoas somente em eventos especificos e depois alardearem que poucos vão aos seus. Também por isso eu disse no sábado, alto e bom som, que não queria que fossem ao meu evento apesar do livro ser bom. Sei que a tirada bateu em cheio em alguns dos presentes.
      Obrigado pela visita e pelo comentário. Este blogue é precisamente para TOCA A FALAR DISSO.
      Beijos.

      Eliminar
  4. Eu compreendi e nesse "lote" eu não me incluo, de todo, porque claro que gosto de ver "a casa composta" mas não me queixo se isso não acontecer.
    Já tive uma apresentação de uma coletânea que coordenei em que só estavam os autores (alguns) e fizémos a apresentação na mesma, foi hilariante e ainda hoje me dá vontade de rir quando me lembro.
    Mas compreendemos que foi uma burrice marcar aquela apresentação quase em cima do lançamento, quase ao pé do local do lançamento e num dia de semana à tarde... era de esperar que desse buraco.
    :-)
    Em Dezembro fui apresentar um livro em que apenas estavam 2 pessoas e o autor (ainda por cima, um jovem) estava tristissimo e sem vontade de fazer a apresentação.
    Eu convenci-o que, nem que fosse só para uma pessoa devíamos fazer a apresentação na mesma e acabou por ser muito agradável, acho que a assistência (heheheheee) se sentiu especial.
    Beijinhos e parabéns pelo blogue.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O prefaciador do livro que vou lançar trabalha na Lituania. Veio a Lisboa porque mais de duas centenas de "amigos facebookianos" da região de Lisboa lhe pediam que viesse apresentar o livro. Combinou com o editor a organização dessa apresentação, veio da Lituania passando primeiro pelo Porto (onde reside em Portugal) trouxe o Ângelo Vaz com ele e uma aluna lituana.
      No dia da apresentação estavam para além dele, do Ângelo, da lituana, do editor e da esposa... eu... que na altura não tinha facebook. A primeira coisa que fiz quando aderi ao FB foi procurar a página dele e mandei uma mensagem a dizer: "Nuno, agora podes dizer que houve um amigo do FB que foi à apresentação do teu livro." Já estive noutro em que na mesa de apresentação estavam 3 pessoas e eu era o único na plateia.

      Eliminar

Toca a falar disso