#erotismofemininoeliteratura
- prosa
fragmento
nº 2
Apaguei
o passado. Em um segundo, como quem apaga texto em um computador, seleciona
tudo e tecla - delete. Deletei. Fiz um giro de noventa graus e me deitei no
corpo dele, corpo inteiro dele, como uma súbita onda. Deitei na areia suave,
salpicada de sol. Como a pele dele ali no peito, salpicada de ferrugem, como a
pele de seu falo com mínimos pontos de ouro. Isto também é passado, pensei. O
meu pensamento de um segundo atrás. Vou descartando o passado como quem se
livra de casacos sobrepostos ao avançar o caminho. Isto é passado, o momento
que comparei o passado a casacos atirados ao chão. Não há chão, há uma areia ardente,
pele de Igor e um céu bordado que é o futuro, Meu medo varrido para a galáxia
mais distante. As nossas peles nuas no orvalho cobertas de um vendaval
múltiplo; lágrima, sêmen, suor, saliva e a garoa da manhã que faz com que ele
cubra meu corpo de ninfa, branco, único, dele, apenas dele.
Ninguém
nunca antes tocou esta pele. Gozou entre as pétalas róseas. Apenas Igor, este
que me inaugura. O sol sacode o silêncio, desperta os pássaros. Igor se vai
depois do café. Mas, não se vai.
-
Constelação de Ossos - página 74 (Vidráguas/2010)
Mini-Biografia:
Bárbara
Lia nasceu em Assai (PR). Poeta e Escritora. Professora de História. Publicou
dez livros, entre eles: O sorriso de Leonardo (Kafka edições baratas), O sal
das rosas (Lumme), A última chuva (ME), Constelação de Ossos (Vidráguas),
Paraísos de Pedra (Penalux), Solidão Calcinada (Imprensa Oficial do PR) e
Respirar (Ed. do autor). Integra várias Antologias, entre elas: O que é Poesia?
(Confraria do Vento / Cáliban), O Melhor da Festa 3 (Festipoa), Amar - Verbo
Atemporal (Rocco), Fantasma Civil (Bienal Internacional de Curitiba), A
Arqueologia da Palavra e a Anatomia da Língua (Maputo). Vive em Curitiba.
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