quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

FALA ÁFRICA... MACVILDO PEDRO BONDE (XVII)

Da felicidade e outros cantares

I

A felicidade é um raio de sol que ilumina a multidão, e a palma da mão, apenas um orifício por onde se filtra a nossa ignorância, para que na claridade, não se veja a nossa insignificância dentro de nós mesmos. Aqui entre os habitantes do verbo, quero medir a velocidade do teu olhar, virado para poente desse sorriso que alimenta a alma, e segreda de soslaio, todos os atributos de um amor que vem.

Toda a maldade que percorre a imensidão das noites, desprende-se solteira sobre esse galho que trazes entre as mãos e o seu odor amacia o dia. Então, sedento das manhãs que cessam boa parte do tempo que durmo, finjo acordar para o infindo, como quem a toda a hora escreve o silêncio da alma.

Não terei o mesmo barco verde com risos nem poderei voltar da viagem a Ítaca sem ter vivido as aventuras hipnotizado pelo perfume dos portos a que atraquei no sonho, caso não resgate em mim a constância destes dedos em punho sobre a escrivaninha escondida entre os dias em que não teço um só verso sublime. A palavra simples e feroz sangra suavemente sobre o pálido papel que procuro nas velhas bibliotecas ambulantes do meu bairro como alguém que perdido no palco da vida não tem outra tarefa senão encenar.

Quero aglutinar em mim todas as experiências do mundo! Quero ao entardecer percorrer as mesmas ruas com a lua à espreita e sem mácula viver intensamente o momento. A felicidade e o raio de Sol serão apenas amuletos desse momento em que digito as palavras mágicas da nossa passagem pelo universo das vogais que calcorreiam o meu estado.


Breve biografia
M.P.Bonde nasceu a 12 de Janeiro de 1980 em Maputo. Foi membro do projecto (JOAC) e do colectivo Arrabenta Xithokozelo. Em 2017 lançou a sua primeira obra literária “Ensaios Poéticos” pela Cavalo do Mar.
Vencedor da 1.ª edição do Prémio Literário Fernando Leite Couto.


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